ateliê / 3
'ateliê / 3' é a sequência indireta de 'ateliê', 'ateliê / 2', 'borboletas mortas' e 'rodoviária', pertencentes à série impasto.
Noite de verão e ventinho que arrepia as canelas. Bar escuro e lotado. 00:51. Banda tocando e cerveja jogada pra cima. As meninas na lateral em frente ao palco reclamavam dos respingos com xingamentos e caras feias, mas os amigos reunidos no fundo viam os banhos de álcool como algo obrigatório. Estavam felizes e com a absoluta certeza da ressaca do dia seguinte.
— guris, vou comprar uma água, alguém quer alguma coisa?
— ONDE TU VAI? — berrou um da turma.
— vou comprar água. quer? — apontou para a garrafa vazia e para o balcão onde entregavam as bebidas.
— tomar no teu cu. não vai beber água — puxou o pintor para fora do grupo. Chegaram perto das gurias e receberam mais reprovações.
— e tomar no cu dessas mina também
— deixa elas. que que tu disse antes?
— tu não vai tomar água, caralho. hoje é dia de se estragar
— meu irmão eu não tenho mais 20 anos, eu vou me estragar de qualquer jeito, eu JÁ TÔ estragado, só não quero acabar a noite passando mal
— olha aqui pra mim. você lançou… abriu… inaugurou… inaugurou, né? — procurava o termo correto falando sério.
— inaugurei, isso. e não sou só eu, calma aí. eu tô expondo algumas tel—
— é tua e foda-se. olha aqui pra mim. tu acabou de inaugurar a tua primeira exposição de arte. tu tem que beber champanhe, não água. caralho
— eu vou. mas antes uma água sem gás. tô indo
— a fila tá gigante, boa sorte
— na real vem junto, bora
— teu cu
— hoje é o meu dia, não é? bora lá
Fila do bar, ao lado do banheiro. Se apontavam as mulheres bonitas e os que dançavam esquisito. Era dia e noite de vitória, havia espaço para julgamentos, flertes sem objetivo e gastar dinheiro desafiando os limites do cartão.
— tu tem que ir lá na galeria amanhã de manhã?
— de manhã não, só depois do almoço
— e a gente precisa ir?
— nah, relaxa. já foram hoje, tão livres
— Graças a Deus
— vai tomar no cu, vai
— foi muito foda hoje
— é só o começo
— quando tu vai pintar uma Monalisa ou algo que te deixe rico duma vez?
— cara, se eu for usar vocês como referência, fudeu. como tu acha que eu vou conseguir pintar uma Monalisa?
— mas ela nem era tão bonita. e a gente tem um amigo chamado GALILEU. se o GALILEU não vale um quadro só pelo nome… porra
— que música é essa? — olhou pro palco tentando identificar a melodia e os acordes da guitarra.
— não faço ideia
— tu já percebeu que sempre que a gente tá no final da fila demora um tempão pra alguém chegar? ser o último da fila é meio deprê, tem que ser pelo menos o penúlt—
— vou mijar, já volto
— espera aí, cara
— é aqui do lado, rapidinho
Falou se despedindo. O pintor se endireitou na fila e perguntou para o casal da frente se sabiam qual era o nome da música. Não sabiam.
Deu de ombros.
Voltou a atenção ao guitarrista.
— murder on the dancefloor — ouviu uma voz feminina no ombro.
— oi? — se virou e calou como se tivesse dado de cara com um fantasma.
— tão surpreso assim? nem disfarça! a música é murder on the dancefloor
— mas é uma versão diferente mais guitarrinha, né? adorei — fingindo que ainda se importava com a canção.
— como você tá?
— agora? um pouco sem graça
— você veio pra cá e esperava não me ver?!
— virou a prefeita da cidade? na verdade assombração aparece sempre e em qualquer lugar…
Tapa no braço dele. Se abraçaram. Alguns anos sem se ver.
— e tu, tá bem? caralho, quanto tempo
— tô sim. como foi a abertura da exposição? é abertura o nome?
— isso, abertura. foi foda, a gurizada toda veio. como tu ficou sabendo?
— meu amor, me poupe… e eu dei oi pra eles agora quando cheguei. onde o Bernardo foi? banheiro? ele não mudou nada!
— nada, tá pior na real. já deve voltar. e que que você tem f— uma água sem gás e duas Bohemia. valeu! — gritou pro garçom atrás do balcão do lado do freezer.
Saíram da fila e encontraram um espacinho na parede perto da porta de saída de emergência. Deu um gole, ofereceu e ela dispensou apontando sua caipirinha.
— que que você tem feito?
— eu cons—
Galileu aparece interrompendo. Percebendo que era ela, abraçou-a e fez uma piadoca. Brincaram rapidamente e ele se dirigiu ao pintor.
— viu o Bernardo por aí? — acendeu um cigarro.
— banheiro
— essas cervejas são dele? — ofereceu um trago, ela e o pintor aceitaram.
— uma sim, a outra é pra mim
— vou pegar pra não esquentar e depois te compro duas. tô indo lá fora com os meninos, qualquer coisa tamo lá — entregou o cigarro aceso, se despediu e de longe, fora do campo de visão dela, fez sinais para que o pintor tomasse cuidado.
— acho que teus amigos não gostam muito de mim
— de onde tu tirou isso?
Sorriu irônica e mudou de assunto.
— você fumando?
— dia de comemoração, hoje pode. você fumando?! — devolveu.
— ué, dia de comemoração
— se tu soube que eu iria expor… não quis ir?
— eu não sabia se tu iria curtir me ver lá
— eu preciso de dinheiro, meu amor. vai lá amanhã comprar os impressos pelo menos
— pode deixar, vou com gosto
— que que tu tem feito? agora sem interrupções
— trabalhando bastante, nada interessante, nada de exposição artística
— exposição artística… ninguém se importa com isso, na verdade. mas tá tudo bem no trabalho?
— como assim ninguém se importa?! todo mundo aqui que gosta de você, se importa. você não se importa?
— eu me importo, mas é diferente. acho que depois que passar vou começar a curtir mais… você sabe
— tem que curtir agora
— tenho. murder on the dancefloor, isso? — reforçou adiantando a despedida.
— isso
— anotado. vou lá pra fora, depois a gente se fala, tá?
— se fala mesmo ou é vício de linguagem?
— não sei… acho que falei por educação. não não, desculpa. tudo bem, a gente se fala sim, claro que a gente se fala. tu tá sozinha? quer ficar com a gente?
Tropeçou nas palavras e arrancou um riso conhecido.
— minhas amigas tão lá na frente do palco, vou lá. quero conversar contigo depois, me empresta teu celular
Alcançou o celular.
— tá aqui o meu número. te mandei mensagem com o meu endereço, aposto que você não lembra onde é. depois que sair daqui me chama
— não sei se—
— conversar. só conversar. — enfática.
Saiu para a frente do bar procurando o amigo. Estavam quase todos do grupo. Chegou desviando a atenção do encontro:
— vocês ouviram aquela versão de murder on the danc—
— tu não vai fazer isso, né? — agora os amigos viraram promotores de acusação.
— oi? — riu nervoso.
— cara, olha em volta, vai atrás de gente nova
— que gente nova, velho?! eu vou ficar com vocês. o plano é daqui a pouco sair, comer um xis e ir pra casa. amanhã preciso tá inteiro
— mesmo?
— claro, amanhã de tarde começa tudo de novo
— então seguinte, a gente comprou duas garrafas de tequila
— tequila? que cagada
— não tinha champanhe, mal-agradecido. a gente leva pra casa, vai sobrar bastante. é só pra fazer um brinde à exposição
— obrigado. vocês são foda
— já fumaram? vamos voltar que a banda é boa
— vou fumar agora. tem ainda, Gal? já vou lá, vão indo
Gal e o pintor acenderam os cigarros.
— e aí, tá bem?
— claro
— como tá a cabeça?
— tranquila
— e o coração?
— parecendo uma escola de samba
//
— chegamos, amigo — anunciou o motorista.
Acordou perdido do cochilo. Olhou pro celular, 02:51. Esperava-o na portaria do prédio. Agradeceu a corrida e desceu do carro. Ela o examinou de cima a baixo.
— tu tá muito bêbado? — abrindo o portão.
— não, tô cansado só. e com sede, e com fome. meu Jesus que azia
— tem chá de erva doce e pizza do meio-dia, serve?
— eu só queria um Sal Eno e ganhei um banquete?
Gargalhadas no corredor do segundo andar.
Entraram no apartamento e a tontura diminuiu. Foi recebido com festa pelos dois cachorrinhos quando passou pela porta.
— eles ainda lembram de mim?!
— acho que não, eles brincam com todo mundo
— ô sem coração, mente pra mim… como teu apartamento tá bonito, adorei as plantas penduradas ali — apontou para a parede atrás da televisão.
— ficaram lindas, né? pendurei esses dias. obrigada. pega aqui — alcançou uma xícara para espanto dele. — tu sempre me pedia chá, me adiantei
— sou tão previsível assim?
— quer mesmo que eu responda?
Tirou os tênis desviando das bocadinhas e patadinhas dos pequenos, se acomodou, escorou as costas no sofá e deixou a cabeça cair pra trás suspirando aliviado.
— tirando tênis? que é isso? tá em casa?!
— caralho, verdade. desculpa… ah na boa, posso ficar sem? vou escorar na janela pra ventilar
— tu tá chulezento?
— nunca fui chulezento, meu amor. você sabe
Equilibrou o par e as meias na grade da janela, sentou outra vez no sofá. Ela na poltrona em frente. Goles.
Tímidos e — quase — envergonhados.
— quer pôr alguma playlist?
— gostei do pijama, azul combina contigo
— obrigada. gostei da tua roupa também
— hoje eu precisava tá bonito
— o grande dia, né?
— pensei: vai que eu encontro uma velha rica que queira me bancar?
— ah sim, com certeza
— acho que ainda tô meio bêbado
Ela confirmou e ele se adiantou:
— bêbado de ficar filosófico e sem pensar muito antes de falar. me interrompa se eu começar a viajar
— tá tudo bem, gosto desse bêbado. avisei o Gal que tu tá aqui
— bah, os guris. nem lembro de ter dado tchau pra eles
— vocês tavam em outro mundo lá no bar
— tequila. tequila é um veneno. eu tinha esquecido disso… tem alguma coisa aqui… — apontou para ela e para o apartamento
— como assim?
— é leve, acolhedor. tenho uma memória bem forte de ser criança e estar sentado na janela do quarto da minha tia, com o rádio ligado e só a claridade da lua preenchia o lugar. meio escuro mas confortante, sabe? eram umas nove da noite mas parecia ser madrugada. aqui me traz isso, o tempo para e o ar é diferente. escurinho e estática de rádio
— nunca reparei nisso, deve ser algo do apartamento
— é algo seu, com certeza é você
…
— ok, agora eu quero ouvir alguma coisa. que que você descobriu de novo nesses anos?
— conhece essa? — deu play.
Confirmou com a cabeça, sorriu e tirou os óculos.
— fazia tempo que eu não ouvia ela… caralho, isso é muito bom
Se olharam cúmplices.
Fecharam os olhos por alguns instantes e beberam em silêncio de conforto.
— põe tocar de novo?
— claro. viu… preciso falar disso antes de tudo. eu queria te pedir descul—
— eu não quero as tuas desculpas.
O rosto dela enrubesceu, o dele continuava leve e acompanhando o compasso da música:
— eu aceito elas, obrigado. e eu também te peço desculpas. as mais sinceras possíveis. mas eu não quero falar de desculpas agora, pode ser?
— pode. você aceita mesmo?
— aceito. espero que você aceite as minhas, mas desculpas levam tempo. você tem caneta e papel? quero te desenhar
— de pijama? era só o que me faltava
— sim, como antigamente. caneta preta de preferência
Entre rabiscos e goles se atualizavam dos últimos outonos, dos últimos filmes, dos últimos álbuns, dos últimos nomes, dos últimos romances e dos últimos sonhos. Lá fora, longe, as buzinas e as garrafas quebradas anunciavam que ainda era meio da madrugada.
— mês passado eu tive que presenciar uns cafés chiques e uns brunches. brunches, né? esse é o nome?
— isso. teve?! te obrigaram? coitadinho
— foi por causa do trabalho, posso continuar?
— ir em brunch é ótimo, mas ir obrigado… continue
— cafés chiques e brunches e jantas e talheres bonitos e guardanapos de pano dobrados... e as pessoas fingiam felicidade num mundinho de faz de conta, numa mentira tão perfeita e aconchegante que elas acreditaram nisso de verdade. brincavam de comidinha e patês e brioches e pães de queijo e falavam de injustiça social numa casa com parede de vidro em um quintal gigante perto do rio... sabe aquelas casas de parede de vidro da zona sul? casa de rico
— ah meu bem, pior que eu acho elas lindas, não vou negar
— eu também acho. mas elas falavam de amor, e... — ria enquanto falava — e eu respeito. mesmo. e na verdade fico um pouco triste
— como assim?
— por mais cínicas que elas fossem, não sabiam o que era o amor. seria triste demais se o amor fosse aquilo que elas descreviam
Lembranças e esperanças de uma época mais fácil.
— não sabiam? e você sabe?
— elas esqueceram ou nunca sentiram amor de verdade. devem ter esquecido, eu espero… amor não é tirar quinze fotos do mesmo prato antes de comer. amor não é rezar de mão junta e agradecer o alimento enquanto tem uma empregada jantando sozinha na cozinha. essa galera parecia um clero com instagram, bando de hipócritas
Girava a xícara e olhava a formiga escalar o vaso de planta ao lado do sofá. Ela fez psiu e ele voltou do devaneio.
— eu falei que tava bêbado, desculpa. e pode parecer bem prepotente com delírios de grandeza… mas é
— me dê exemplos
— você não faz ideia de como eu fiquei quando me virei no bar e vi teus olhos pretos me encarando. sabe aquela ardência nas narinas e a tosse de cloro que a gente tem quando se afoga? era isso
— continue
— não quero te incomodar. e depois de tantos anos você continua assim me dando corda e deixando que eu me enforque?
— adoro quando você para de fingir que tá tudo bem, que tudo é prático e que tudo é piada
— lido como um livro. eu não sei que tipo de amor eu sinto por você agora. de verdade. mas claramente eu amo uma versão sua que foi muito importante pra mim. mas amar uma versão sua é amar você por inteiro? eu tô disposto a descobrir os teus novos beijos e traumas ou prefiro morar nos antigos? você quer mais marcas de unhas e dentes nas coxas já que as antigas desapareceram? tenho várias flores que enfeitariam tua cabeceira, mas você ainda tem aquela primeira? querer te guardar na minha garganta me faz egocêntrico ou apaixonado? …faz sentido?
— faz, mas pra mim é um pouco diferente. eu não penso tanto assim em você… eu não penso tanto assim em ninguém. eu saio do trabalho e venho pra casa, saio de casa e vou pro trabalho, fico dias sem conversar direito com alguém. acho que não me permito ser nostálgica, machuca muito. mas tu aparece na minha cabeça quando eu menos espero. lembro de você quando penso nos sonhos que combinamos de viver juntos, quando conheço pessoas rabugentas ou muito amorosas, quando abro errado o molho de tomate, quando escuto uma risada alta ou vejo alguém muito empolgado falando no telefone. é diferente, não consigo poetizar em cima disso… o artista aqui é você
— artista — falou com desdém. — nem sei mais que porra isso significa. mas acho que entendo, obrigado por compartilhar isso
Sorrisos de boca fechada. Terceira xícara.
— tu sempre falou que não sabe poetizar… poetizar, ora poetizar… o fato de você conseguir resumir e imprimir esses sentimentos, dessa forma, é muito a tua cara. e isso é um elogio, tá? a melhor piada que já ouvi na vida foi você que me contou. eu tava na frente do Banco do Brasil e gargalhei tão alto que o vendedor de morangos quis saber o motivo do riso
— sério? qual piada?
— você não lembra? óbvio que não lembra, memória de peixe
— me respeita, tá? Dory merece respeito
— a da estátua
— a da est— SIM!
— vou roubar ela e colocar numa tela
— me dê os créditos
— nunca.
— bocó.
— essas pessoas dos brunches… elas bebiam um chá marroquino… marroquino? não importa. deve ser bom pra caralho, mas esse Dr. Oetker que você fez pra mim compensa qualquer chá vendido em caixinha de madeira. a caixinha vai fora, me importa o gosto que vai ficar na nossa boca, me agrada ver a voltinha que você dá no barbante do sachê encaixando na alça da xíc—
Interrompeu.
— tá passando mal? que que houve?
— tô falando demais, preciso ir no banheiro
Entrou, ligou a luz e se olhou no espelho. Esperava algum tipo de cobrança ou xingamento do superego por estar ali, mas só conseguiu fazer caretas com a língua de fora imitando o pinguim Pingu.
Lavou o rosto, voltou e agora ela estava no sofá.
— tua vez de sentar na poltrona, minhas costas tão me matando
— por que não me avisou antes? bocó
— você fala pouco, imagina te atrapalhar e tu não falar mais nada a noite toda?
— sei que isso é uma afronta mas senti falta do teu sarcasmo
— que sarcasmo?
— e se a gente for pra cama?
— hmm todo esse papinho foi pra me levar pra cama? você é um cachorro
— até parece que eu sou esse cara
— é um pouco
— acho que sim. mas não hoje, não agora.
Deitaram no escuro por cima dos lençóis. Os dois de barriga pra cima. A fresta de luz da sala iluminava o canto da cama e a mesa de estudos.
— saudade do cheiro dos teus travesseiros. tem alguma fórmula secreta que não é amaciante
— eu até diria que sinto falta do teu perfume, mas teu cabelo tá cheirando cerveja
— longa história
— essas pessoas, que mais que elas falaram?
— não lembro… esse pouco que lembro queria esquecer na real… ou melhor, não. é bom lembrar pra saber das coisas que importam
— tu não arrumou nenhuma velha lá pra te bancar?
— não arrumei. e tu, encantou algum novinho?
— abri uma creche. olha bem pra minha cara vê se eu tenho paciência pra guri
— linda demais mas realmente, ranzinza como você é, o bom é arrumar um velho também
— EU RANZINZA? EU?! continua o que você tava falando
— sei lá que que eu tava falando
— do amor
— do amor... lembro das meninas dizendo que as sessões de botox eram só pra prevenir, mas que na verdade não se importavam com os padrões de beleza e eu só conseguia pensar que meu Deus eu amava te ver de perfil, séria, prendendo o cabelo com a caneta enquanto algumas mechas soltavam do coque, saíam de trás da orelha, caíam nos ombros e te deixavam irritada
— você é um cachorro
— que que eu fiz agora? a culpa não é minha se tu séria e brava é a nona maravilha do mundo
— cafajeste
— sei de nada… é tão fácil falar de ti
— digo o mesmo. quer dizer, não digo, penso. você entendeu… tu continua apaixonante
— apaixonante? alguém já me falou isso antes
— alguém? bobo. e não são sete as maravilhas?
— acho que são oito, o Machu Pichu virou a oitava
— sério? que legal! já foi pra lá?
— ainda não, e você?
— curto o Machu Pichu mas quero ir pro Chile antes… me diz, eu ainda sou um ateliê pra ti?
Ficaram de frente um pro outro.
— se você ainda é um ateliê? você não esqueceu… — ergueu as sobrancelhas. — acho que a pergunta não é essa
— qual é a pergunta?
— por que você me chamou pra tua casa e por que eu aceitei vir?
— não sei ao certo
— eu também não. e faz diferença? eu ainda sou alguma coisa pra ti?
— tu é uma lembrança de como as coisas devem ser
Aproximaram os rostos. Carinho na bochecha dela.
— …bom, dizem que depois das duas da manhã nada de bom acontece. acho melhor eu ir embora
— que horas são agora?
— 05:31
— ah, então já virou, já tá amanhecendo. o espírito zombeteiro de fazer merda já foi dormir
— já?
— sim. hoje você dorme aqui.
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recadinhos rápidos:
1. estamos com novos exemplares físicos do ‘algumas estórias’ e do meu segundo livro ‘estórias de segunda’. me manda mensagem pra comprar o(s) teu(s)!
2. deixa o like, cadastra teu email, manda feedback
3. é sério ué, vai ficar de preguicinha? vai cair pedaço?
4. .................obrigado (pela leitura e pelo apoio), ok? OBRIGADO.
pingu
como ouvir (mesmo que a menção de) murder on the dancefloor e não lembrar de… 🙃